MESA DIGITALIZADORA? QUE BICHO É ESSE?
Acabo de conquistar minha primeira Wacom. Venho usando mesas digitalizadas há alguns anos, e gostei tanto que larguei praticamente de todo as tintas e os pincéis. Mas até hoje não tinha tido a chance de ter nas mãos essa verdadeira mercedes das mesas digitalizadas. Por isso, resolvi me debruçar um pouco no assunto, a ver se desperto o interesse em outros ilustradores que ainda não se ligaram na beleza e praticidade de incorporar a mesa digitalizada e nunca mais se preocupar com mancha de ecoline nas calças novas.
A mesa digitalizadora, ou tablet (tablete, em inglês), é um periférico que permite escrever e desenhar direto no computador. Embora só mais recentemente tenha começado a popularizar-se aqui no Brasil, pelo mundo a fora há quase uma década é ferramenta obrigatória em qualquer estúdio de ilustração, design ou animação que se preze como o tal.
Como conceito, a mesa digitalizadora não tem nada de novo: o primeiro dispositivo de escrita eletrônica foi patenteado por Elisha Grey em 1888. Em 1957, surgiu a primeira mesa digitalizadora para reconhecimento de grafia por um computador, a Styalator.
Mas a que ficou mais conhecida naquele período foi a Rand Tablet, ou Grafacon (de graphic converter - conversor gráfico), introduzida em 1964. Ela empregava uma malha de fios sob uma superfície de epoxi que codificava coordenadas verticais e horizontais em um pequeno sinal magnético. A área de escrita era de 10x10 polegadas, com resolução de 100 linhas por polegada. Conectada à mesa por um fio, uma "caneta" recebia o sinal magnético gerado pela malha, enviando a informação ao computador que então o decodificava.
O projeto completo da Rand Tablet pode ser lido aqui (o arquivo é em pdf, tem 1Mb e está escrito em inglês, mas é o original, disponibilizado pela Rand Corporation).
Durante os anos 70 até meados de 80, as mesas digitalizadoras foram se popularizando, e uma delas, a Summagraphics chegou a ser vendida como acessório do Apple II. Naquele período começou-se a usar o magnetismo como forma de detectar a posiçao da "caneta" com maior precisão.
A primeira mesa digitalizadora para computadrores domésticos foi a KoalaPad, projetada para o Apple II pelo Dr. David Thornburg em 1984.
A idéia era criar um computador de desenho de custo barato para as escolas. Como a Koala tinha suporte também à plataforma PC e vinha acompanhada de software próprio para a execução dos desenhos, ela rapidamente caiu no gosto popular. Tão popular que a então gigante de games Atari chegou a desenvolver modelos próprios com qualidade ainda melhor que a Koala.
Daí em diante, as mesas digitalizadas foram se firmando, tornando-se ferramentas obrigatórias em estúdios de design gráfico, animação, ilustração, desenho e pintura digital.
TIPOS DE MESAS DIGITALIZADORAS
Quanto à operação, há vários tipos de mesas digitalizadoras atualmente no mercado:
Mesas Passivas - fazem uso da indução eletromagnética, onde os fios verticais e horizontais operam tanto como emissores como receptores (diferentemente do sistema Rand, que só usa transmissores). A mesa gera um sinal eletromagnético que é recebido por um circuito LC (um ressonnate eletrônico) acoplado à caneta. Quando esta entra em contato com a mesa, os fios da malha passam para o modo de recepção, lendo o sinal gerado pela caneta. A isso foi acrescida a sensibilidade à pressão e instalação de botões similares aos do mouse ao corpo da caneta. Por usar sinais eletromagnéticos, a mesa dispensa o uso de baterias na caneta que é carregada pela simples proximidade. As mesas Wacom utilizam este sistema.
Mesas ativas - nessas, a caneta é dotada de baterias sendo, portanto mais pesada e cansativa no uso.
Mesas ópticas - operam por uma câmera minúscura afixada na caneta. A caneta digital Logitech utiliza essa tecnologia.
Mesas acústicas - utilizam um gerador de som acoplado à caneta e dois microfones posicionados próximos à area de escrita. Alguns modelos modernos conseguem ler as posições da caneta em três dimensões.
Mesas capacitivas - oeperam pela detecção de sinais eletrostáticos. São capazes de detectar a posição da caneta mesmo que esteja pairando alguns centímetros acima da superfície.
Em todas essas tecnologias, a mesa é capaz de usar o sinal recebido para determinar a distância em que a caneta se encontra, seu ângulo vertical e outras informações, além da posição dentro dos eixos vertical e horizontal.
QUAIS OS USOS DE UMA MESA DIGITALIZADORA?
De longe, o maior uso das mesas digitalizadoras é no ramo das artes gráficas em duas dimensões. Vários softwares gráficos, como o Photoshop, o Corel Painter, o Inkscape e o Pixel Image Editor, entre outros, fazem uso das diferentes informações geradas pela mesa digitalizada (pressão da caneta, ângulo, rotação, etc) para alterar o tamanho, a forma, a opacidade, a cor e vários outros atributos dos pincéis de pintura.
No Oriente, as mesas digitalizadoras são largamente utilizadas em conjunto com um software específico para escrever caracteres especiais. Há que até já tenha substituído o mouse pela mesa digitalizada nesses países.
O CAD é outro software cuja funcionalidade se amplia significativamente quando usado com uma mesa digitalizadora.
POR QUE USAR UMA MESA DIGITALIZADA?
Antes de mais nada, porque com uma mesa deigitalizadora, desenhar é como usar lápis e papel. Experimente assinar seu nome usando o mouse. É horrível, é simplesmente impossível conseguir alguma coisa legível a não ser que se perca horas praticando.
Segundo, pela precisão. Ao contrário do que se pode imaginar, a área de trabalho da mesa digitalizadora acompanha o zoom da tela do monitor, permitindo que se trabalhe em detalhes tão bem como em áreas amplas como um poster ou um outdoor. E olhe que eu sou chata com detalhes!
Terceiro, porque se controla o pincel pela simples pressão da mão. Quero um lavado quase transparente no fundo? Beleza: basta acertar algumas definições de pincel no Photoshop e voilá! Estou fazendo um rascunho e, como estou acostumada, quero um lápis bem macio, com um traço suave? Barbada, basta tocar de leve. Gostei do traço, basta riscar com mais pressão.
Finalmente, pelo conforto. Quem, como eu, começou a desenhar com lápis e papel, depois de experimentar uma mesa digitalizadora pela primeira vez nunca mais quer saber do mouse. A mesa é mais ergonômica, os movimentos são mais naturais e menos restritos que o mouse. No meu caso, bem mais restritos, pois uso um trackball, ao qual me acostumei quando começei a modelar em 3d e cujo hábito nunca mais abandonei.
MESAS DIGITALIZADORAS NO BRASIL
No Brasil, as marcas mais acessíveis são a Genius e a Trust. A Wacom também pode ser encontrada aqui, mas os preços são de arrepiar os cabelos, portanto não recomendo para quem está começando e não tem certeza se vai mesmo usar.
Por experiência, minha indicação é a Genius. Ela pode não ter um design lá muito auspicioso, mas é barata, estável, confiável, quase não gasta a bateria e não tem problemas de compatibilidade. Seu único senão é que a caneta não vem com ponteiras de reposição. Mas, no meu caso, com um uso mais ou menos intensivo, a ponteira durou alguns anos. A instalação é uma barbada e o aplicativo funciona muito bem.
O formato 9x12 tem um preço acessível (menos de 200 Reais) e dimensões muito boas para quem quer começar.
A Trust tem um visual mais incrementado, vem com ponteiras de reposição (duas, se não me engano), mas, para mim, não rolou: o ponteiro do mouse ficou epilético e ela é incompatível com o Photoshop CS3. Contactei o suporte deles, mandaram atualizar o driver, e nada adiantou. Pior: a cada boot eu precisava abrir o aplicativo e setar coisas básicas como dimensões da tela, pressão, etc etc etc... Se você não se abala com ponteiros epiléticos, não usa o CS3 e não se incomoda com aplicativos burros, vá fundo. Depois não diga que não avisei.
Agora, se você dispõe de muitos trocados a mais ou algum parente morando nos states que esteja para visitar em breve, minha dica é decididamente a Wacom. É a BMW das mesas digitalizadas: basta conectar na porta USB, instalar os drivers e pronto! Se usar com o Photoshop, então, vai se sentir no céu: foram feitos um para o outro. A sensibilidade é fantástica, ela corre macia, e ainda tem nas laterais botões de fácil acesso para o shift, o ctrl, o alt e a barra de espaços, que a gente usa pra caramba quando está trabalhando no Photoshop. Além disso, dispensa pilhas na caneta e vem com cinco pontas de reposição, sendo duas normais, uma de feltro (pra dar mais realismo ao pincel) e uma bem fina, de precisão.
Quer saber mais sobre a wacom? Leia a resenha publicada pela Folha.
Se quer saber mais sobre mesas digitalizadas em geral, há um excelente texto aqui, simples, objetivo e fácil de ler.
No Youtube, você encontrará vários vídeos com técnicas de desenho usando uma mesa digitalizada, basta digitar "tablet" no quadro de busca.
De todos eles, destaco:
Sketching on a Wacom tablet / Speed painting of tara reid by gavin fitzsimons / Digital speed sketching female figure / Painting the face Digital art / Wolf - Speed Painting In Photoshop / Painting Chel
Pensei em criar um tutorial para ajudar as pessoas a fazer o melhor uso das mesas digitalizadoras, mas dando uma olhada por aí, encontrei um ótimo tutorial escrito por Fábio Pena. O objetivo do tutorial é ensinar a criar um pincel personalizado a partir de uma forma (a mesma técnica se aplica a imagens), mas ele se deu ao trabalho de explicar os parãmetros de configuração dos pincéis no Photoshop. O tutorial é bem ilustrado, até quem está começando a engatinhar no Photoshop vai entender. Se quer ir direto às configurações de pincel no Photoshop, leia a partir do passo 9.
Publicado em 20/11/2008